Por que a codificação dos descritores curriculares é tão importante para gestão educacional?

Leitura em
5
min
Publicado em
13
/
06/2024
Autor
Fabrício Garcia
CEO na Plataforma Qstione
Fabrício Garcia é um professor da área de saúde apaixonado pelas novas tecnologias educacionais. Seu foco principal de trabalho está em ajudar instituições de ensino e professores a implementar novas tecnologias que aumentem a eficiência educacional, justamente por acreditar que a tecnologia é o caminho mais simples para democratizar a educação de qualidade no Brasil.
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No Brasil, uma das grandes discussões que permeiam o meio educacional é a construção curricular. Esse debate ocorre tanto no ensino superior quanto na educação básica, frequentemente gerando embates calorosos entre especialistas do setor educacional. Há, inclusive, uma corrente de pensamento que sugere a não utilização de currículos fixos ou a flexibilização quase total do planejamento de ensino, refletindo a diversidade de opiniões sobre o tema.

Diante desse contexto, o objetivo deste artigo é destacar alguns pontos cruciais relacionados à construção curricular que devem ser considerados nessa discussão. Tais pontos têm o potencial de impactar outras áreas da educação, como a avaliação, o material didático e a escolha dos métodos de ensino.

Primeiramente, vamos caracterizar a finalidade do currículo escolar, seja no ensino superior ou ensino básico.

O currículo é o documento que determina os objetivos e metas de aprendizagem a serem alcançados no decorrer do processo de ensino, bem como descreve os conhecimentos a serem trabalhados em sala de aula. Portanto, o currículo constitui a base pedagógica que define o que deve ser ensinado e quais competências e habilidades devem ser adquiridas pelos estudantes. Além disso, o currículo orienta o processo de avaliação de desempenho dos estudantes ao estabelecer o que deve ser avaliado.

Desse modo, o currículo representa um planejamento pedagógico sistemático que visa garantir a formação integral dos alunos, atendendo a padrões estabelecidos por diretrizes educacionais nacionais e internacionais e refletindo as necessidades e expectativas da sociedade.

Por isso, a ideia de uma educação sem uma base curricular ou a flexibilização excessiva do currículo não faz sentido prático ou pedagógico. Educar sem planejar é um contrassenso desmedido, pois é essencial definir o que deve ser ensinado. Essa definição é, em parte, determinada pela conexão e articulação entre os setores educacionais e os anseios da sociedade.

No ensino superior do Brasil, a construção curricular dos cursos é norteada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Já no ensino básico, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento norteador. Ambos os documentos são abrangentes e permitem a criação de currículos relativamente distintos, especialmente as DCNs no caso do ensino superior. A BNCC, por ser uma base curricular, possui um grau maior de especificidade.

Nesse contexto, surge a questão da codificação e padronização dos descritores curriculares. A ideia de codificação curricular foi amplamente desenvolvida por Benjamin Bloom e seus colaboradores na década de 1950, quando iniciaram o trabalho de pesquisa e construção da Taxonomia de Bloom (leia: https://www.qstione.com.br/blog/a-importancia-de-benjamin-s-bloom-para-educacao).

Codificar é o ato de expressar uma informação seguindo um padrão de linguagem, e a ideia de codificação curricular alinha-se a esse conceito. O propósito da codificação curricular é padronizar a linguagem utilizada na construção dos descritores, de modo que a estrutura linguística gere significados claros para cada componente do currículo. Isso permite a uniformização da avaliação e do ensino de forma precisa, minimizando espaço para interpretações diversas.

Segundo a ótica de Benjamin S. Bloom, a codificação curricular refere-se a um processo de sistematização e organização dos objetivos educacionais. A ideia principal é estruturar o currículo de forma a facilitar o desenvolvimento de competências e habilidades nos alunos, alinhando os objetivos de ensino com os métodos de avaliação e instrução. Esse processo envolve a decomposição dos objetivos educacionais em componentes menores e mais específicos, organizados hierarquicamente. Isso ajuda os educadores a planejar, implementar e avaliar o ensino de maneira mais eficaz.

Na codificação curricular, a abordagem de Bloom facilita a criação de um currículo que promove uma aprendizagem progressiva e estruturada. Com isso, os educadores podem garantir que os alunos desenvolvam habilidades cognitivas, afetivas e psicomotoras de maneira integrada e coerente com as expectativas educacionais(leia: https://www.qstione.com.br/blog/objetivos-de-aprendizagem).

Sua instituição de ensino já trabalha o planejamento de ensino a partir de um currículo codificado?

Quando a instituição de ensino não trabalha com um currículo tecnicamente qualificado, com uma codificação bem definida, corre-se o risco de ocorrer o que denominamos, aqui na Qstione, como um “desalinhamento pedagógico” ou esquizofrenia pedagógica.

Leia este artigo: Esquizofrenia pedagógica

Quando os objetivos educacionais descritos no currículo não são explícitos e claros o suficiente, o que pode levar a múltiplas interpretações, podemos afirmar que esse cenário é prejudicial para a sistematização do planejamento de ensino, especialmente em grandes redes de ensino. A falta de codificação e padronização curricular pode gerar discrepâncias entre o ensino e a avaliação, além de induzir professores e gestores educacionais ao erro.

A intenção deste artigo não é esgotar o tema — muito pelo contrário. Portanto, se você é um gestor educacional e leu até aqui, reflita sobre a codificação curricular em sua instituição de ensino. Esse deve ser o ponto de partida para todas as ações pedagógicas, sendo a base de uma boa gestão educacional.

Se você tem dúvidas sobre o tema, não deixe de nos procurar. A Qstione criou tecnologias específicas para ajudar instituições de ensino no processo de codificação curricular.

Até o próximo artigo!

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