Como o aprendizado pode ser evidenciado na avaliação?

Publicado em
08
/
09/2021
Autor
Fabrício Garcia
CEO na Plataforma Qstione
Fabrício Garcia é um professor da área de saúde apaixonado pelas novas tecnologias educacionais. Seu foco principal de trabalho está em ajudar instituições de ensino e professores a implementar novas tecnologias que aumentem a eficiência educacional, justamente por acreditar que a tecnologia é o caminho mais simples para democratizar a educação de qualidade no Brasil.
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Outro dia, enquanto ministrava uma capacitação de professores, um deles me perguntou: como identificar se o estudante está realmente aprendendo? Foi uma pergunta básica, mas que oculta um contexto complexo, pois tratava-se de um questionamento da práxis docente. Naquele momento, esse questionamento ressoou como um estalo de compreensão da realidade docente na minha mente. A partir daí, de repente, eu percebi que essa pergunta está no subconsciente de muitos professores e gestores educacionais, mas ela não é frequentemente explicitada. E, para piorar a situação, quando os professores buscam a resposta para essa pergunta, boa parte dos autores da área pedagógica não respondem de forma clara e objetiva.

Por isso, visando sanar essa dúvida, eu resolvi escrever este artigo. Assim, se você é um professor e/ou gestor educacional, leia com atenção os próximos parágrafos.

Primeiramente, o que é aprender?

Trata-se da capacidade individual de adquirir conhecimentos e habilidades que podem ser mobilizados para realizar tarefas.

No entanto existem tarefas mais e menos complexas. Dessa forma, os indivíduos, em muitos casos, precisam aprender as tarefas mais simples antes de começar a realizar as tarefas mais complexas. Isso ocorre porque o aprendizado de conhecimentos e habilidades mais complexas exigem, da nossa mente, a aquisição de outros conhecimentos menos complexos que embasam esses processos mentais.

Por exemplo, os professores da educação infantil, quando iniciam o ensino da linguagem, buscam ensinar os sons e os formatos das letras antes da compreensão das palavras. O mesmo acontece no ensino superior, já que a grande maioria dos projetos pedagógicos também são estruturados a partir da aquisição dos conhecimentos mais simples para os mais complexos. Nesse contexto, trabalha-se inicialmente os conhecimentos efetivos e conceituais e depois os procedimentais e metacognitivos. Se você quiser entender melhor essa lógica, leia os nossos artigos que falam sobre a taxonomia de Bloom revisada.

Resumidamente, o aprender é um processo que não ocorre por meio de uma ação isolada. Nessa lógica, o aprendizado se dá por um somatório de ações pedagógicas planejadas e muito bem articuladas entre si. Decerto o ato de ensinar vai muito além das ações estritas a sala de aula, e o aprendizado dos estudantes depende de muitas variáveis.

Como aferir o aprendizado?

O primeiro passo para aferir corretamente o aprendizado é definir, objetivamente, o que deve ser ensinado. Parece óbvio, mas grande parte das escolas e instituições de ensino superior não apresentam metas bem definidas de ensino. Em alguns casos, essas metas sequer foram construídas dentro do escopo curricular da instituição de ensino. Esse fato abre um abismo de subjetividade em todo processo de ensino, particularmente no processo de avaliação de estudantes.

Para avaliar adequadamente o aprendizado dos estudantes, antes de qualquer coisa, é preciso descrever com muita clareza o que deve ser ensinado, por meio de descritores específicos de aprendizagem (objetivos instrucionais) que devem compor uma Matriz de Referência (Leia mais sobre o tema aqui.). Esses descritores nortearão o modelo de avaliação, bem como a geração de indicadores de aprendizado. Estranhamente, muitas instituições de ensino definem o modelo de avaliação sem caracterizar as metas de ensino. Talvez, esse seja o maior furo organizacional-pedagógico da educação brasileira  —  venho alertando sobre isso há alguns anos. Pasmem, nem mesmo o MEC apresenta uma estrutura curricular capaz de contemplar essa demanda (Leia: A BNCC serve como matriz de referência?).

A construção de matrizes de referência é nascedouro de uma boa avaliação da aprendizagem, pois os descritores que compõem essa matriz definem quais são as metas de aprendizado que devem nortear os professores e estudantes na busca pelo conhecimento.

Trata-se da definição de uma estrutura mínima de metas de aprendizado aferíveis por meio da avaliação de estudantes.

O segundo passo para aferir corretamente o aprendizado reside na escolha do modelo de avaliação a ser adotado pela instituição de ensino. Nessa seara é preciso compreender que quaisquer modelos de avaliação têm limitações, pois a avaliação, por definição, é uma mera ferramenta de coleta de dados e evidências. O modelo adotado determinará quais serão os dados e evidências coletados. Dessa forma, cabe aos professores e a instituição de ensino a aplicação, o processamento e análise dos dados obtidos na avaliação. Tais informações devem servir como base para tomada de decisão no âmbito pedagógico.

Nesse intuito, a escolha dos modelos avaliativos deve ser norteada pela própria matriz de referência. Isto é, são os próprios objetivos de aprendizagem ou metas de aprendizagem que definirão o modelo avaliativo, e a lógica para justificar isso é meramente técnica. O descritor de objetivo de aprendizagem indica que tipo de evidência ou dado é capaz de evidenciar o aprendizado do estudante e, por conseguinte, deve ser obrigatoriamente coletado na avaliação. Por esse motivo, o modelo de avaliação depende intrinsicamente da meta de aprendizado.

Percebam que, sem metas bem definidas, a realização da avaliação perde o sentido. Ora, se não há objetivo de aprendizagem a ser atingido pelos estudantes, como avaliaremos tal aprendizado?

Por fim, como identificar se o estudante está no caminho do aprendizado?

Se o modelo de avaliação foi criteriosamente escolhido e metodologicamente aplicado, bingo! Os professores e a instituição de ensino terão, em suas mãos, um conjunto de dados que podem ser processados para gerar indicadores de aprendizado fidedignos.

O problema é que muitas instituições de ensino não conseguem processar esses dados por diversos motivos, seja por falta de recursos humanos qualificados ou por não ter as melhores tecnologias em avaliação de aprendizado. Nesse contexto, é preciso compreender que a avaliação do aprendizado não é quantificada a partir de uma nota obtida em uma avaliação. É preciso articular uma série de informações provenientes das avaliações.

O principal objetivo da avaliação é retratar um momento do estudante, verificando quais são as metas de aprendizagem que possivelmente não foram alcançadas naquele contexto de avaliação. O resultado isolado de uma avaliação não tem muito significado pedagógico, mas um conjunto de resultados, articulados por uma mesma matriz de referência, isso sim, pode demonstrar a evolução do aprendizado dos estudantes e detectar as famosas lacunas de aprendizagem (Aprofundamos o tema nesse artigo aqui).

Em suma, o que importa é a aferir a evolução do estudante acerca de um conjunto de objetivos específicos de aprendizagem, e a avaliação é a ferramenta de pesquisa que vai gerar os dados necessários para essa aferição. Essa identificação de quais metas de aprendizagem estão ou não sendo atingidas faz toda diferença, pois permite a realização de um trabalho educacional focal, centrado nos pontos mais frágeis do aprendizado dos estudantes. Por isso, a instituição de ensino que possui um processo avaliativo refinado torna-se capaz de obter altíssimos resultados acadêmicos, com extrema racionalidade de recursos. É a eficiência pedagógica atingindo o estado da arte.

Se você gostou do tema ou se sua instituição de ensino precisa de orientação e/ou de ferramentas tecnológicas para melhorar o processo avaliativo dos estudantes, entre em contato com nossa equipe. A Qstione trabalha diuturnamente para oferecer os melhores serviços em avaliação de estudantes.

Até o próximo artigo!

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