Como elaborar uma prova de alto nível?

Publicado em
17
/
09/2020
Autor
Fabrício Garcia
CEO na Plataforma Qstione
Fabrício Garcia é um professor da área de saúde apaixonado pelas novas tecnologias educacionais. Seu foco principal de trabalho está em ajudar instituições de ensino e professores a implementar novas tecnologias que aumentem a eficiência educacional, justamente por acreditar que a tecnologia é o caminho mais simples para democratizar a educação de qualidade no Brasil.
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Neste texto vamos conversar um pouco sobre como elaborar uma prova de alto nível. Você é professor? Então, está no lugar certo! Boa leitura.

Todos os anos, no encerramento do semestre letivo, somos levados pela avalanche de provas que precisam ser elaboradas para avaliarmos nossos alunos. Passamos horas e horas montando questões e lutando com o computador para ajustar as figuras dentro das margens. Vemos o dia amanhecer criando vários tipos de provas, a fim de dificultar as fraudes. E ainda gastamos um bom tempo distribuindo pesos e pontos para chegar a uma métrica adequada de avaliação.

Todo professor vive esse desafio, não é mesmo? A elaboração de provas é parte sagrada da nossa rotina. E uma atividade tão corriqueira, com certeza, não deve mais representar um grande desafio.

Será? Vamos pensar em algumas perguntas:

  • Você já parou para pensar se as suas provas realmente avaliam o conhecimento dos alunos de forma pedagógica?
  • Ao final do processo, tudo o que você consegue oferecer é só uma nota?
  • Em seu processo avaliativo, existe a preocupação em promover um feedback sobre o aproveitamento da disciplina?
  • Para você, elaborar provas já virou uma atividade tão mecanizada que, no final das contas, é mais simples apenas repeti-las?

Se essas questões te deixaram pensativo (a), pelo visto, ainda temos sim alguns desafios para encarar quando o assunto é avaliação de estudantes. Talvez, chegou a hora de começarmos a refletir sobre o papel deste processo na vida dos alunos. E de começarmos a aprender como elaborar provas de alto nível. Que tal trocarmos ideias?

Antes de entrarmos nessa reflexão, contudo, acho importante relembrarmos dois pontos que parecem meio óbvios, mas, às vezes, são esquecidos diante da rotina acelerada da docência.

O que significa aplicar uma prova? 

Segundo o dicionário Michaelis digital, uma prova é “aquilo que demonstra a veracidade de uma afirmação ou de um fato; confirmação, comprovação, evidência”. Quando aplicada ao contexto educacional, a expressão indica que uma “avaliação escolar, em geral, contém diversas questões com o objetivo de testar o conhecimento do aluno”.

Em outras palavras, isso significa que uma prova é um instrumento utilizado para atestar a qualidade da absorção e compreensão de um conjunto estruturado de informações. Assim, ela deve evidenciar se houve (ou não) a solidificação de um conhecimento proveniente da relação entre aluno e professor no ambiente escolar.

Provas, portanto, não são meras formalidades para preenchimento de uma caderneta. Elas são parte essencial do processo de aprendizagem, e revelam tanto o desempenho dos alunos como dos docentes e até mesmo da instituição de ensino.

É isso mesmo! A nota de uma prova não pertence somente ao aluno. Todos os agentes envolvidos no processo pedagógico, em certa medida, podem ser responsabilizados pelo desempenho das turmas. Consequentemente, o docente que não enxerga o resultado obtido pelo estudante em uma avaliação como reflexo também do seu próprio trabalho, com certeza, não compreendeu seu papel em sala de aula.

O que significa atribuir uma nota ao desempenho escolar do aluno? 

Aluno fazendo prova

Algumas correntes pedagógicas modernas têm questionado o reducionismo das métricas numéricas, quando o assunto é medir o desempenho de um ser humano, especialmente no âmbito escolar. Por isso, as diversas “réguas” utilizadas em avaliações estão buscando, cada vez mais, integrar a diversidade e a subjetividade dos indivíduos e as limitações operacionais e circunstanciais do processo avaliativo, antes de simplesmente determinar uma série de números a serem atribuídos. 

Contudo, apesar de a iniciativa para diversificar as métricas de avaliação ser fundamental, precisamos, antes de tudo, aprimorar a compreensão dos nossos professores e instituições de ensino acerca da importância de estabelecer uma boa ligação entre os critérios de avaliação e os objetivos pedagógicos de aprendizagem. Afinal de contas, não importa selecionar a escala mais integradora de pontuação, se não tivermos clareza sobre o que de fato precisamos pontuar.

Relembrar, portanto, destes tópicos básicos, parece-me essencial para podermos chegar ao debate sobre como construir uma prova de alto de nível. Por isso, se você não tem, ainda, conhecimento satisfatório sobre objetivos de aprendizagem e os pilares da avaliação de estudantes, sugerimos que você visite outros textos do nosso Blog, antes de apreciar esta leitura.

Se você já está seguro, vamos trocar algumas ideias sobre como elaborar provas de alto nível. Aqui, serão destacados 05 pontos.

1) Ter em mente os objetivos de aprendizagem

Antes de começar a montar sua prova, é fundamental ter em mente, com clareza, quais objetivos de aprendizagem foram previamente programados no plano de ensino da disciplina. Estes objetivos determinam o que deve ser aprendido pelos estudantes e, consequentemente, cobrado nas avaliações. Mas não só isso, eles também podem nortear os métodos de ensino, as atividades extracurriculares, a escolha das referências bibliográficas e, até mesmo, do material didático adotado. 

Por isso, visite o seu plano de ensino, todas as vezes que for elaborar uma prova. Confira o conteúdo programático ao qual a sua prova se refere e observe quais objetivos estavam traçados para essa fase. Eles devem  detalhar as capacidades que os alunos precisam demonstrar durante as avaliações e os respectivos critérios de proficiência para cada item.  

Por exemplo, na disciplina de matemática, temos o conteúdo sobre as quatro operações básicas (soma, subtração, multiplicação e divisão). E vamos imaginar que um dos objetivos de aprendizagem para esta etapa é que os alunos pudessem identificar os sinais, a partir da análise de exemplos, nomeando as operações de acordo com seu tipo.

Perceba que o objetivo não deixa margens para dificuldade na definição de como as questões de uma prova com esse assunto poderiam ser postuladas. Sabemos exatamente quem deverá responder (os alunos), qual é a ação esperada (identificar os sinais), em quais condições eles poderão executar essa ação (analisando exemplos das operações) e o grau de domínio esperado (nomeando as operações de acordo com o tipo).

A questão já deve ter aparecido aí na sua cabeça, não é mesmo? Pois é! Os objetivos de aprendizagem tem esse poder norteador. E, por isso, são um ótimo lugar para começarmos o planejamento e a elaboração de uma prova de alto nível.

2) Construir bons enunciados

Veja que com os objetivos de aprendizagem bem estruturados, já fica muito mais fácil elaborar boas questões para sua avaliação! Contudo, além dessa etapa, professores que fazem provas de alto nível, também se preocupam com a formação de bons enunciados.

A estrutura básica de um bom enunciado de questão contempla quatro passos: (1) contextualizar a questão, (2) desafiar o aluno com uma situação problema, (3) dar um comando claro e, por fim, (4) oferecer todas as instruções necessárias para resolver o que se pede. Vamos analisar um a um.

Contextualizar a questão é uma fase muito divertida! Você pode usar uma figura, um gráfico, um poema, uma música, um vídeo, um jogo e muitas outras opções para delimitar o assunto que vai ser tratado.

Em seguida, desafiar o aluno com uma situação problema significa colocá-lo diante de um impasse ou de uma circunstância que exija análise do contexto e avaliação dos conhecimentos aprendidos para se tomar uma decisão. É o momento de fazê-lo refletir sobre um problema fictício ou real criado para englobar o conteúdo estudado.

Sequencialmente, devemos introduzir o comando da questão, ou seja, determinar a ação esperada para resolver a situação problema, com base no contexto apresentado. E, por fim, devemos apresentar todas as instruções ou regras necessárias para que o aluno resolva a questão da forma esperada. Este último item não é obrigatório, apesar de muito importante em alguns casos.

Os enunciados bem feitos aumentam e muito as chances de a turma lograr sucesso na atividade. Por isso, atente-se aos elementos que os constituem e não tenha medo de testá-los para garantir que transmitam a mensagem correta da questão.

3) Justificar as respostas e fazer alternativas que exijam raciocínio 

Em provas de alto nível, todas as opções de resposta devem aparentar serem plausíveis de marcação. E isso não se faz com “pegadinhas” ou “cascas de bananas”, pois nosso intuito não é induzir o erro. O correto é que as afirmativas exijam raciocínio do aluno. Assim, depois de uma ou duas leituras, ele deverá identificar as inconsistências de cada alternativa, até achar a que mais se aproxima da verdade, de acordo com o que foi pedido no comando. 

Além disso, respostas óbvias, ou facilmente alcançadas por eliminação, não são características de uma avaliação de alto nível. O aluno deve ser capaz de achar as falhas em cada opção de resposta sem margens para dúvidas e contestações. Isso evita uma série de conflitos após a aplicação da prova, e pode estreitar os laços entre professores e estudantes, já que uma prova justa e bem elaborada não deixa margem para ressentimentos, caso surjam notas abaixo do esperado.

Como vimos anteriormente, o processo de avaliação não é uma via de mão única. Ele é um reflexo do desempenho de todos os agentes pedagógicos. Por isso, é imprescindível que haja também uma devolutiva para o aluno, a fim de estabelecer a melhoria contínua e a autorreflexão. 

Dessa forma, na hora da devolutiva, você pode oferecer ao aluno um comentário estruturado sobre a questão e uma justificativa para cada opção de resposta. Isso significa indicar o porquê de uma alternativa ser a correta e as demais estarem erradas. Com esse nível de clareza, ao receber os gabaritos, o aluno poderá identificar seus próprios erros e solidificar o conhecimento, a partir de uma avaliação crítica do seu próprio desempenho.

4) Saber dosar o nível de dificuldade e pontuar as questões de forma equilibrada

Você já fez uma prova em que, logo na primeira questão, teve a sensação de que não sabia de absolutamente nada e, para piorar, ela ainda tinha um peso, na pontuação, equivalente a 30% da prova? Pois é! Ler aquele enunciado difícil e ver alternativas complexas já no início da prova pode significar um balde de água fria na confiança do aluno.

Muitos dos nossos estudantes, em semana de prova, vivem conflitos com a ansiedade, insônia e vários outros problemas derivados da maratona de estudos. Estes problemas, muitas vezes, reduzem o rendimento do indivíduo, mesmo que ele tenha se preparado. Por isso, ao ler de cara, na primeira questão, algo de nível complexo, ou além do que foi trabalhado pelo professor em sala de aula, o aluno pode novamente experimentar a ansiedade e minar seu próprio desempenho.

Sabendo disso, o professores devem elaborar provas utilizando questões com graus de dificuldade variados, respeitando os níveis solicitados pelos objetivos de aprendizagem. Assim, a pontuação deve ser distribuída conforme o nível de complexidade de cada questão, evitando fazer com que a pontuação da prova esteja concentrada em uma ou duas questões específicas, sem critério pedagógico algum ou sem considerar a complexidade cognitiva do objetivo de aprendizagem solicitado na questão. Se uma prova precisa avaliar o conhecimento absorvido sobre todo o conteúdo ministrado no período em questão, é importante que haja critérios pedagogicamente definidos na distribuição dos pesos.

5) Promover uma rede de preparação para as avaliações

“Já dei o conteúdo. O aluno agora que se vire para estudar”. Na minha época de graduação, ouvi essa frase de vários “professores”, quando estávamos perto da semana de prova. Ficávamos à deriva, pois não havia mais comunicação, nem mesmo por e-mail ou em outros canais. Assim, a turma precisava se unir para tentar fazer com que menos marinheiros fossem lançados ao mar durante a tempestade das provas.

Essa ideia de só ministrar o conteúdo e depois sumir sem prestar assistência ao aluno está bem distante do objetivo de fomentar um caráter autodidata e organizado nos estudantes. Apesar de ser responsabilidade de o aluno zelar pela sua participação em sala de aula e pela organização do seu próprio cronograma de estudos, devemos lembrar que todos os discentes possuem um estilo de aprendizado diferente.

Enquanto uns conseguem prestar atenção durante toda a aula e acompanhar o ritmo do professor fazendo anotações e tirando dúvidas (o que claramente pode diminuir a necessidade de estudar em casa), outros não seguem a mesma lógica de retenção do conhecimento, e precisarão de outras formas de suporte. Por isso, professores que fazem avaliações de alto nível, não se preocupam apenas com a qualidade da prova.

Eles sabem que a prova é apenas um estágio do processo de aprendizagem e também se preocupam em diversificar os seus métodos de ensino durante a ministração do conteúdo, respeitando os diferentes tipos de aprendizagem. Investem em listas de exercícios e simulados que se aproximem às condições do teste real. E, especialmente, estão disponíveis para tirar dúvidas e prestar assistência da maneira como for possível. 

Não me refiro aqui a uma situação impraticável de professores que sozinhos possuem cinco ou seis turmas com mais de quarenta alunos prestando atendimento individualizado para cada um. Estou me referindo a criar oportunidades - dentro do próprio cronograma de aulas - para que os alunos possam tirar suas dúvidas de forma criativa, como com o apoio de monitores, grupos de estudo, rodas de debates, visitas à biblioteca, vídeos tutoriais, fóruns on-line, textos auxiliares e outros mecanismos.

Além disso, o ideal é que estes momentos não sejam realizados somente uma semana antes da prova, no final do semestre. Na medida em que os conteúdos forem ministrados, é essencial proporcionar o momento para dúvidas. Assim, fica mais fácil inclusive substituir o “aluno que se vire” por “ótima pergunta, ela pode até cair na prova”!

Recapitulando

Primeiro, relembramos o que efetivamente significa aplicar uma prova, e que a nota de um aluno não é reflexo apenas do seu desempenho, mas de todos os agentes pedagógicos. Por isso, precisamos selecionar e refletir sobre as métricas utilizadas para medir o desempenho dos indivíduos, especialmente no ambiente escolar.

Vimos também a importância de conectar as avaliações aos objetivos de aprendizagem postulados no plano de ensino, e de construir bons enunciados de questões. Em seguida, debatemos sobre a importância de preparar um bom feedback para os alunos justificando as respostas e criando comentários estruturados sobre as respostas esperadas.

Vimos, ainda, a necessidade de dosar a dificuldade da prova e distribuir as pontuações de forma equilibrada. Por fim, discutimos sobre a formação de uma rede de preparação na qual professores e alunos possam se unir para consolidar dúvidas e o aprendizado. Todas essas medidas combinadas podem não só beneficiar a construção de provas de alto nível, como promover um melhor desempenho para os alunos, com menos desgaste físico e emocional dos envolvidos no processo.

Ao ler todos esses passos, é possível que você tenha imaginado a trabalheira em qualificar seu processo de avaliação, aumentando a quantidade de tarefas operacionais. Mas, não se desespere! Para isso, eu tenho uma boa notícia:

Todos esses passos podem ser automatizados com o apoio da Plataforma Qstione. Elaborar provas, feedbacks, pontuações e enunciados de forma pedagógica não precisam ser trabalhos desgastantes. Converse com os nossos analistas para saber como podemos auxiliar o seu trabalho. Vamos juntos revolucionar a educação do nosso país, cada um fazendo a sua parte, por menor que ela pareça.

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